O mundo jurídico sempre foi algo interessante para quem estuda direito, apaixonante e sobretudo, dono de um apelo importante: quem estuda direito se tornará doutor e certamente será bem sucedido.
A verdade é outra: o bacharel em direito é historicamente formado para ser intelectual e detentor de uma cultura ampla, em assuntos especializados em direito, mas, como muitas outras profissões, não é educado em gerir seus negócios e por que não dizer, ganhar dinheiro.
Atualmente, segundo a OAB Federal, o Brasil tem cerca de 950.000 advogados, sendo que somente em São Paulo e Rio de Janeiro, são cerca de 406.00, ou seja, praticamente 43% de todos aqueles que passaram na OAB e foram aprovados pelo Exame da Ordem.
Se considerarmos uma população brasileira em 200 milhões, teremos cerca de 1 advogado para cada 475 habitantes.
Por que esse assunto é tão importante ao técnico do direito: advogado ou gestor de um departamento jurídico?
Certamente porque um escritório deve ter sua gestão profissionalizada, com foco em resultados que sejam alinhados com a ética, mas também que obtenham controles capazes de fazer a banca crescer com perenidade e sucessão. Os principais motivos de mortalidade dos escritórios parecem ser os mesmos de pequenas e médias empresas: problemas entre os sócios, falta de gestão financeira, falta de planejamento estratégico e sobretudo, falta de formação e informação em como formar preço e captar, respeitando o estatuto da OAB.
Mas por que então tantos advogados tem dificuldade de profissionalizar seus escritórios ou gerir melhor os negócios dentro de departamentos jurídicos, uma vez que a quantidade de habitantes, sobretudo em uma fase de acesso a bens de consumo e mudanças de comportamento empresarial oferecem ótimas oportunidades de consultoria jurídica, quer seja para empresas como para consumidores?
Anualmente, também segundo a OAB, cerca de 60.000 bacharéis de direito são formados. Nem todos, obviamente, passam no exame de Ordem. Muitos, novos em idade e com o sonho de ganhos financeiros altos, buscam abrir seu próprio negócio ou ainda, conquistar um emprego público, por vezes sem vocação alguma para a advocacia do dia a dia ou para tolerar a assessoria para a Rés Publica.
A OAB apesar de seu esforço silencioso não é capaz sozinha de auxiliar na profissionalização de tantos advogados, na mesma razão que a modernidade se mostrou, em verdade trata-se da falta de consciência e capacidade de realizar a gestão dos serviços jurídicos tanto dos escritórios como dos departamentos.
Algumas constatações são importantes e talvez possam oferecer ao leitor reflexões que auxiliem na mudança cultural necessária:
a) a Sociedade da Informação: tida como uma forma de entender a modificação do comportamento na sociedade atual, com o mundo digital e os avanços tecnológicos, uma quebra importante de paradigmas ocorreu, sem precedentes na história: as novas gerações nascem digitais mas carecem da tradição e experiência dos advogados e técnicos que a mais tempo operam o direito;
b) a falta de Gestão dos Serviços Jurídicos: compreender um escritório ou um departamento como um negócio é vital para que os ativos da “empresa” dos advogados possam existir ou sobreviver. Apesar de ser uma sociedade simples, não se pode esquecer que existe um Código de Ética necessário e importante para garantir que a representação do advogado e do seu cliente sejam perenes e salutares;
c) a falta de Cultura de Controle e Gestão Financeira: assim como as empresas de pequeno e médio porte (as ME ou EPP) ligadas ao Simples Nacional, entendemos que os escritórios precisam fazer gestão financeira e discutir rotinas administrativas para fins de melhoria de seus serviços. Não é raro escritórios encerrarem suas atividades por não conhecer suas despesas, não terem claro suas rotinas administrativas ou ainda, pior, não formularem preço levando em conta sua estrutura de custos.
Não se torna um advogado apenas litigando, mas sim com vocação, conhecimento mínimo da área de sua atuação e, sobretudo, gerindo seu negócio com a responsabilidade de dono, garantindo identidade a banca (Intuitu Personae) e legitimando com a boa ciência e ética, a máxima de que um grande advogado é bem sucedido por sua reputação e gestão de seus ativos.
Fonte: jota.uol.com.br
Preencha os campos e informe o código para o download